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14 de jan. de 2014

Traduzir-se é uma arte


Foto: web


Estou em processo de gestação de meu primeiro livro, fecundada que fui pela Poesia como terapêutica.  Os escritos versarão sobre a Poesia na Arteterapia e, mais amplamente, sobre a necessidade do reencantamento do olhar para a vida. Isso significa trazer poesia para os dias, as horas, os meses, os anos...  Mas esta é outra história, embora o tema continue a ser Poesia. Falo agora sobre a vivência que acontecerá brevemente, “Traduzir-se: a arte de contar a própria história – Uma vivência Arteterapêutica”, onde estarei como facilitadora, juntamente com uma amiga e colega arteterapeuta, Cláudia Antunes.
 Esse projeto é antigo, e nasceu casado com o exercício da escrita, uma dificuldade vivenciada por muitos, como pude constatar ao longo de minha caminhada, em trabalhos com textos. Mas é impossível cogitar-se escrever ignorando uma ancestral tão majestosa de nossa linguagem atual, a Poesia. Dentre tantas fantásticas descobertas, encontrei referências sobre a Poesia como linguagem de povos primitivos, e essa observação levou-me a pensar no quanto podemos ter ficado “cindidos” com o apartamento dessa dimensão encantatória de nossas vidas. Adoecemos pela carência profunda da Poesia. Adoecemos do olhar, que já não sabe embriagar-se da beleza natural, da singeleza. Adoecemos da Alma, que já não se espanta.  As palavras do poeta Márcio-André são reveladoras:  “A poesia é a linguagem primordial de todo espanto e está na essência de tudo que produzimos, enquanto ato criador não alienado. A poesia é o que permite o real, ainda que hoje o real a oculte, entulhado na rotina dos sistemas “.

Nossa vivência pretende ser um espaço onde sensibilizaremos nosso olhar, onde o embriagaremos de Poesia, a partir da nossa própria história. É o filósofo Gaston Bachelard quem pergunta, em seu livro A água e os sonhos: “Do homem amamos acima de tudo o que dele se pode escrever. O que não pode ser escrito merece ser vivido?”.  Eu responderia que toda história merece ser escrita. E que é possível reencontrar o encanto nas palavras, nos gestos, nas expectativas; embriagar o olhar e se extasiar de beleza, ainda que em momentos onde falte o enlevo. Um dos caminhos que trilharemos é o de buscar descalcificar expressões construídas com palavras cristalizadas, sem movimento, sem vida. Há indícios de que um dia nossa linguagem ostentou um halo.  E temos a esperança de fazê-la brilhar novamente.

O exercício de “sensibilização poética” não se restringe à execução de trabalhos em uma ou duas modalidades artísticas. A Poesia está na dança, no canto, na pintura, na escultura, na fotografia...no poema! Mas é certo que nosso trabalho culminará com a confecção do livro de nossa vida, relatando nossa própria história. Nossa história recontada pelas mãos da Imaginação, que entre nós ganha o status de realidade. As técnicas utilizadas para nosso livro serão variadas, considerando as afinidades de cada um com as modalidades artísticas. 

A proposta de auxiliar os participantes a entrar num “estado poético” seria muito ousada, se não acreditássemos que Poesia é, de fato,” a linguagem primordial de todo espanto e está na essência de tudo que produzimos” , como tão bem colocou o poeta Márcio-André, já citado acima. Sob os escombros do que insistimos em chamar de “realidade”, há Poesia. Vamos escavar a terra com as nossas mãos e, também com as nossas mãos, vamos reescrever as possíveis páginas sombrias de nossas vidas.
A Vivência acontecerá em breve e será divulgada amplamente, com datas, local e demais informações.

Traduzir-se é uma arte. Vamos a ela?