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Estou em processo de gestação de
meu primeiro livro, fecundada que fui pela Poesia como terapêutica. Os escritos versarão sobre a Poesia na Arteterapia e, mais
amplamente, sobre a necessidade do reencantamento do olhar para a vida. Isso
significa trazer poesia para os dias, as horas, os meses, os anos... Mas esta é outra história, embora o tema
continue a ser Poesia. Falo agora sobre a vivência que acontecerá brevemente, “Traduzir-se:
a arte de contar a própria história – Uma vivência Arteterapêutica”, onde
estarei como facilitadora, juntamente com uma amiga e colega arteterapeuta,
Cláudia Antunes.
Esse projeto é antigo, e nasceu casado com o
exercício da escrita, uma dificuldade vivenciada por muitos, como pude
constatar ao longo de minha caminhada, em trabalhos com textos. Mas é
impossível cogitar-se escrever ignorando uma ancestral tão majestosa de nossa
linguagem atual, a Poesia. Dentre tantas fantásticas descobertas, encontrei
referências sobre a Poesia como linguagem de povos primitivos, e essa
observação levou-me a pensar no quanto podemos ter ficado “cindidos” com o
apartamento dessa dimensão encantatória de nossas vidas. Adoecemos pela
carência profunda da Poesia. Adoecemos do olhar, que já não
sabe embriagar-se da beleza natural, da singeleza. Adoecemos da Alma, que já
não se espanta. As palavras do poeta
Márcio-André são reveladoras: “A poesia
é a linguagem primordial de todo espanto e está na essência de tudo que
produzimos, enquanto ato criador não alienado. A poesia é o que permite o real,
ainda que hoje o real a oculte, entulhado na rotina dos sistemas “.
Nossa vivência pretende ser um
espaço onde sensibilizaremos nosso olhar, onde o embriagaremos de Poesia, a
partir da nossa própria história. É o filósofo Gaston Bachelard quem pergunta,
em seu livro A água e os sonhos: “Do homem amamos acima de tudo o que dele se
pode escrever. O que não pode ser escrito merece ser vivido?”. Eu responderia que toda história merece ser
escrita. E que é possível reencontrar o encanto nas palavras, nos gestos, nas
expectativas; embriagar o olhar e se extasiar de beleza, ainda que em momentos onde
falte o enlevo. Um dos caminhos que trilharemos é o de buscar descalcificar
expressões construídas com palavras cristalizadas, sem movimento, sem vida. Há
indícios de que um dia nossa linguagem ostentou um halo. E temos a esperança de fazê-la brilhar novamente.
O exercício de “sensibilização
poética” não se restringe à execução de trabalhos em uma ou duas modalidades
artísticas. A Poesia está na dança, no canto, na pintura, na escultura, na
fotografia...no poema! Mas é certo que nosso trabalho culminará com a confecção
do livro de nossa vida, relatando nossa própria história. Nossa história recontada pelas mãos da Imaginação, que
entre nós ganha o status de
realidade. As técnicas utilizadas para nosso livro serão variadas, considerando as afinidades de cada um com as modalidades
artísticas.
A proposta de auxiliar os
participantes a entrar num “estado poético” seria muito ousada, se não
acreditássemos que Poesia é, de fato,” a linguagem primordial de todo espanto e está na
essência de tudo que produzimos” , como tão bem colocou o poeta Márcio-André, já citado
acima. Sob os escombros do que insistimos em chamar de “realidade”, há Poesia.
Vamos escavar a terra com as nossas mãos e, também com as nossas mãos, vamos
reescrever as possíveis páginas sombrias de nossas vidas.
A Vivência acontecerá em breve e
será divulgada amplamente, com datas, local e demais informações.
Traduzir-se é uma arte. Vamos a
ela?