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2 de set. de 2013

Arteterapia: a arte de curar pelo delírio







Cogumelo artesanal - A arte como delírio





“Pra que esse diabo de arteterapia, que pintar e dançar não vai curar ninguém? “. Verdade. E acredito que a essência da Arteterapia ainda não foi bem traduzida para o mundo dos obcecados pela compreensão intelectual das coisas. Acho que a minha definição íntima e profunda da Arteterapia é a seguinte: Arteterapia é a arte de curar pelo delírio. Enquanto outros profissionais da cura da alma acreditam que é preciso interpretar os delírios, o arteterapeuta de alma sabe que os delírios precisam ser vivenciados. Que adoecemos sem eles.  Que a dimensão delirante do ser humano é real, de uma realidade íntima e pessoal. É preciso ressuscitar essa dimensão delirante nos pacientes. E buscar compreender o que o próprio delírio solicita. E a moça que fez seu auto-retrato  com asas nos pés contou, através de sua arte, o seu delírio de voar, literalmente, como os pássaros. Seu delírio não podia ser suprimido. A “cura” se daria através da realização do delírio. E a moça compreendeu que as suas asas estavam na cabeça. Era o delírio as suas asas. E voou longe, alto, ruflando as asas leves dos devaneios.



Às vezes o arteterapeuta precisa ajudar o paciente a não temer os delírios, mostrando que nossa dimensão delirante é fonte de vitalidade, inspiração, criação, ineditismos. Os jovens que penam para escrever uma redação escolar ou de concursos sofrem, como a grande maioria, de falta de imaginação. São pessoas que não conseguem libertar-se da realidade desidratada O mundo não passa daquilo que seus olhos físicos enxergam. E já trabalhei com eles, constatando que o problema resume-se essencialmente na falta da imaginação. Alguns confessaram que não sabiam imaginar. Criamos pela imaginação. Executamos o que foi concebido pelo delírio. Sem delírio, deixamos de exercitar a parte nossa que mais nos une à nossa divindade: a criação! A criação real, inédita! O delírio!



Lembrando aqui da oficina Sonhar com as Mãos, que caminha nesse sentido. No delírio estão contidos símbolos sagrados para a alma do delirante. A educação oficial não investe no delírio. Nas minhas aulas de teatro tenho agradado e sendo reconhecida como talentosa para representar, sem experiências anteriores de teatro. E isso se deve (eu não sabia desse meu talento) ao fato de a Arteterapia, na forma que acredito, ensinar o delírio, a imaginação como caminho de cura.





Lembrei-me de repente da frase de Jung que uso junto com minha logo: “Em todo adulto espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa.” Acredito profundamente nisso. E por isso, A Arteterapia ajuda na cura da criança ferida do adulto.



Nossas feridas vêm. Muitas vezes, de longe. É o nosso bicho interno, nosso animal ferido que abandonamos e relegamos a um reino inferior.  Em nós, humanos, temos todos os reinos: mineral, vegetal, animal. Mas não damos vozes aos que querem expressar-se como uma amendoeira ou como um capim. Vozes que urram, rugem. Gorjeiam. O Sonhar com as mãos trabalhará os reinos mineral, vegetal, animal, buscando encontrar a nossa voz relacionada a cada etapa.



Bem, uma ambiência de sonhos, um chamado da música- do- fazer- sonhar e a vivência de sonhar com as mãos de forma mágica, a máscara-palavra dando espaço para adentrarmos no território virgem de palavras. A dimensão da não- palavra

                                                                                 .



E para concluir, acredito também que a Arteterapia cura ao possibilitar que exerçamos a nossa maior vocação divina: a de criadores. Toda criação, a rigor, é uma revelação, penso eu.



E mais convite pra essa aventura do sonhar.  sonhemos com as mãos?

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