O Jogo de Areia é um método
junguiano não verbal, um procedimento psicológico de acesso ao inconsciente
muito eficaz e lúdico por essência, visto que são utilizadas miniaturas de
diversas categorias, com quais são montadas, pelo paciente, cenas reveladoras.
Mas o tema central aqui não é o Jogo de Areia em si. Este é um relato que aborda um tema de um
modo geral evitado pelas pessoas: a Morte!
Não é novidade nenhuma que a
Morte foi praticamente banida de nossas vidas, apesar do inevitável encontro
com ela a qualquer momento. A maioria dos doentes morre no ambiente frio de um
hospital. O velório – realizado comumente, no passado, na sala de estar das
casas – hoje é realizado nas salas dos cemitérios reservadas para isso. E,
assim, vamos colocando a Morte cada vez mais longe de nós. A arte tumular, com
toda a sua riqueza simbólica, também foi desaparecendo entre nós. E se perdeu,
assim, a poesia da Morte.
Ao começar a minha coleção de
miniaturas para o Jogo de Areia, tinha em mente encontrar logo a pequena urna
funerária, peça imprescindível, no meu entender, justamente pela pluralidade de
situações que ela pode representar. Porque morrer não é só um evento biológico;
morremos muitas vezes no decorrer de uma só vida; a cada transformação
profunda; a cada passagem de fase; a cada perda. As pequenas mortes nos
preparam para a Passagem final. Ou pelo menos deveriam.
Demorei um pouco para adquirir a
peça tão essencial da minha coleção. Não encontrava em lugar nenhum e, a cada
pergunta sobre ela, nos vários lugares por onde passei, via caras de espanto,
feições contraídas, estranhezas. E eu só estava procurando por uma miniatura,
como tantas outras, assim eu pensava.
Acredito muito na Vida que nasce
da Morte. Ela parece mais plena. E insisti na busca do pequeno ataúde. Queria
que fosse uma peça feita com arte e delicadeza. Busquei através da internet, em
vão. Por pura coincidência, encontrei no facebook a página de um artista genial
que trabalha com perfeitas miniaturas de móveis. Anotei o e-mail e enviei-lhe
uma mensagem. Sabia que miniaturas artísticas com aquela qualidade não seriam
baratas, como outras miniaturas que compramos em vários lugares. Por outro
lado, também o artista nunca havia feito a miniatura de um caixão. Mas ele
topou o desafio e uma pessoa muito querida quis me dar o presente.
Wilson Rodrigues, o artista
paulista, contou-me que a peça fez o maior sucesso entre amigos e parentes.
Falou também que, ao chegar aos correios para pesar a miniatura que enviaria
via sedex, as moças que lá estavam não queriam tocar na miniatura. Mas
felizmente ela chegou, junto com um brinde do artista, a adorável miniatura de
uma cadeira.
Não, a grande maioria das pessoas
não vê beleza na pequena peça artística, feita com esmero, com perfeição. Na
mais recente aula do Jogo de Areia, com a competentíssima professora Aicil
Franco, levei a peça para mostrar às colegas. Houve quem não quisesse tocar. Mas
o reconhecimento da perfeição da miniatura foi unânime. Isso ninguém pode
negar.
Há uma espécie de rito para “batizar”
as miniaturas adquiridas, que se dá montando uma cena com ela. Eu ainda não
havia feito, e tratei de dar vida ao meu caixãozinho tão especial. A imagem
está aí. Instintivamente, coloquei na cena uma miniatura de uma mulher grávida.
Porque toda morte – biológica ou não – traz a vida.
Esse é mais um recurso utilizado
também na Arteterapia, e os resultados são surpreendentes.
Sugiro também a visita à página do
artista miniaturista Wilson Rodrigues, no facebook. É De Jó miniaturas.