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A lua exerce um fascínio eterno
nas pessoas. Resistiu ao desencanto que assolou o mundo, ao tédio das retinas,
à vulgarização do sublime. Cada olhar em direção à Lua cheia é um espanto que
não enfraquece, e é sempre um olhar primeiro numa sucessão infinita de olhares
estreantes. O homem foi à Lua, mas São Jorge continua lá, e a luz emprestada ao
satélite ainda faz com que os olhos brilhem. É preciso encontrar tempo e espaço
para olhar a Lua, as estrelas, estabelecer um contato amoroso com elas e
utilizá-las como portais para outras dimensões de nós mesmos. Dimensões
desconhecidas, quem sabe extasiantes.
Umas das causas do consumo
excessivo de drogas, por parte de garotos e garotas, é justamente a deficiência
imaginativa. As cataratas que obstruem a beleza das coisas ínfimas. A pessoa
imaginativa produz seus devaneios naturalmente.Que podem ser belíssimos.
Contudo extirparam o órgão imaginativo dos homens. Eles já não semeiam
realidades com sementes oníricas.
Muitos jovens sentem-se
entediados em locais onde a Natureza é a grande estrela. Dizem não ter nada
para fazer lá. Porque olham com descaso a flor solitária nas dumas de areia.
Porque não sabem ver na majestosa solidão da flor uma metáfora para
comportamentos e sentimentos humanos.
Também falta ternura. E ternura é
algo na maioria das vezes desconhecido.
Mas o ser humano haverá de
esgotar sua fome exacerbada pelos desejos materiais, e então terá início um
apetite de ternuras, um anseio por asas, o orgasmo do olhar diante da beleza da
mulher, do homem, das espumas do mar..
E volto a lembrar o poder do
satélite com luz emprestada. Também dou-me conta do brilho da escuridão. A
escuridão tem luz íntima, voltada para dentro, e um dia talvez todos possam
enxergá-la. Do mesmo modo, a luz cria trevas ofuscantes, fogo derretendo íris.
É preciso não esquecer que, sim, há muitos mistérios não desvendados pelas
nossas vãs filosofias.
Também o esplendor das palavras
se perdeu. Resta-nos apenas clichês sacralizados com os quais se evoca o
Divino. São delírios maculados pela insanidade dos que sustentam um Deus com os
dízimos. Eles mal olham pro céu e nada entendem sobre constelações. Toda a sua
energia é gasta para combater o Demônio. A esses, só o Demônio poderá salvar. E
aí talvez consigam promover o encontro entre seus olhos e o céu estrelado.
Acho que essa história traduz a
minha direção principal no exercício da Arteterapia:
A função da arte
Eduardo Galeano
Diego não conhecia o mar. O pai,
Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado
das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim
alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na
frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto fulgor, que o
menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu
falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!
Os olhos encantados precisam de
outros olhos para dividir o fulgor. E assim vamos semeando sonhos...
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