As suas mãos – que você quase não usa – descobrem, de repente, que podem pintar, colar, desenhar, bordar, dar forma ao barro. Há palavras que você gostaria de falar, sentimentos que precisava esclarecer, questões que sequer ousou formular para si mesmo, mas que não deixam de ocupar os seus pensamentos.
O caminho da palavra não o levou ao centro de si mesmo. O toque incisivo no seu corpo apenas amorteceu a inquietação da sua alma. Mas a ânsia de saber de si persistiu.
Um dia, pela primeira vez, você usou as tintas com as mãos, olhos vedados, e um animal em perigo atravessou correndo o papel. Quem era ele e o que viera dizer? Em que parte de você o bicho se escondia e como pôde ser revelado de uma forma tão inesperada?
Ainda lembro do dia em que você pegou o pincel pela primeira vez e timidamente sangrou no papel a vida de um pássaro antigo, à beira do abismo. Eu sabia, você sabia que o voo estava em ensaio, mas que era para o infinito que as cores misturadas apontavam.
Certa vez você decorou uma caixa por dentro e por fora, e a face externa da caixa ostentava o seu semblante mais antigo, enquanto por dentro uma ingênua menina camponesa depositara um raminho de flores secas no fundo da caixa. Não demorou para que você soubesse que as duas eram você. Que a mais velha, a de fora, protegia a menina frágil, delicada, a de dentro.
Não, não foi mero acaso teus dedos banharem-se de verde e passear pelo papel branco, pincelando-o como se recriasse a natureza. O verde diz muito de você, revela facetas que talvez lhes sejam desconhecidas.
Curiosamente, você nunca achou feias as suas criações, e mesmo como aprendiz soube entender que criar é o dom divino que nos liberta. Depois de algum tempo, você pôde compreender que o seu inconsciente falava através de símbolos e que a arte era o canal através do qual esses símbolos se esboçavam.
Essas descobertas em relação à Arteterapia levaram-no a pensar que criar é como sonhar. Na arte, o sonho ganha forma e vida real. Através da arte é possível estabelecer contato com o universo oculto do inconsciente e começar a entender como é mágica a história que vamos contando a nós mesmos, nossa própria história, que estivera desconhecida, mas que se revela pela criação, pela imaginação, pelos movimentos, pela encenação...
Verdade é que a Arteterapia é a abordagem terapêutica dos novos tempos. Ela é um convite a que desenvolvamos o nosso dom divino da criação, estabelecendo elos entre o mundo externo, nosso conhecido, e o mundo misterioso do inconsciente, que nos fala através de símbolos. Criar pra curar: isso é a Arteterapia!