Sempre me achei uma pessoa
sensível. Cheia de paradoxos, mas sensível. As dores que vinham do mundo para a
minha alma, doíam. Doeram sempre. Muito. Ainda doem. Ascendente em peixes, aqueles
que no zodíaco morrem com o outro. Isso explica parte da sensibilidade, não
toda. Astrologia não é acadêmica, portanto isso tem pouco valor pra você –
acadêmico, mestre, doutor. Não constou dos vossos currículos e cheira a
misticismo. Já pensei assim também. Mas fui pesquisar. Tive uma postura “científica”,
como sempre tenho; mas estou aprendendo a usar e a confiar na minha via
intuitiva. Bem, mas fui pesquisar a astrologia depois de ganhar um presente
forçado, do qual não pude declinar: uma então amiga astróloga ofereceu-me o meu
mapa natal de presente de aniversário. Esquivei-me o quanto pude, mas não pude
prolongar muito os meus dribles. Fui fazer o tal mapa. Ok, isso não é “acadêmico”,
mas – embora o mapa tenha sido interpretado por uma pessoa com limitações na
sua função, porque há “astrólogos” e “astrólogos” – surpreendi-me com o
resultado e obtive respostas que nenhuma terapia, nenhuma análise, nenhum
médico, nenhum tratado de magia, nenhum pai-se-santo, nenhuma cigana me responderam. Porque gosto de ler sobre tudo, experimentar, verificar de perto.
E busquei muitos caminhos, em vão.
Óbvio que fui buscar livros de
astrologia pra ler. Tentei chegar o mais próximo que pude da astrologia antiga,
ainda pura, ainda ciência. Pouco se encontra a esse respeito que possa ser
levado a sério. Mas fui. Fiz analogias. Entendi que todo nascimento, inevitavelmente,
ocorre em sintonia com o Cosmos. Que refletimos aspectos do cenário cósmico.
Ok, isso não é “acadêmico”, mas eu jamais limitarei meu saber somente à academia.
Gosto de ouvir versões antigas. Gosto de querer encontrar o começo das coisas.
Gosto muito de acreditar que todos os saberes igualam-se em valor; sejam eles
acadêmicos, sejam populares.
Mas não era nada disso que eu ia
falar. Ia falar sobre bichos, como gatos e cachorros. Sempre respeitei os
cachorros, os gatos. Sempre me despertaram ternura. Mas nunca me envolvi
intimamente com nenhum deles. Isso foi acontecendo aos poucos. Cachorros de
sobrinho pra cá, gatos de irmã pra lá, cachorros de amigos acolá, até
aparecer Bianca, gata de rua alimentada por minha irmã , que chegou, pariu,
ficou. Operada, não tem mais cio, virou um grande bebê. E fui convivendo com
ela, observando, aprendendo. O gato sempre me atraiu pela sua independência.
Mas Bianca ensinou que eles amam, eles fazem carinho e também, como o cachorro,
afeiçoam-se aos seus donos-pais de uma forma muito bonita. Encantei-me e
encanto-me com ela. Toquei nesse tema para trazer à reflexão o sentimento de
amor pelos animais. Tem crescido bastante o número de pessoas que adotam
animais e se apaixonam por eles. Tem aumentado em número as vozes que dizem
amar mais aos animais do que aos seres humanos. Muitos ainda consideram esse
amor uma patologia séria e não admitem, simplesmente, que se ame mais a um ser
de um reino dito “inferior”. Eu sou da
linha dos que acreditam que não há reino “superior”; há reinos diferentes, mais
complexos, mas desenvolvidos, mas nunca “superior”. Para as pessoas que se acham
mais sensíveis, evoluídas porque não comem carne, eu sempre questiono por que
comem vegetais. Porque acredito que o reino vegetal também precisa de amor.
Enfim, não há reinos inferiores.
Como eu falei antes, cresce o
número de pessoas que sofrem mais com a morte de seu cão ou seu gato do que com
a morte de uma pessoa amiga. Às vezes até parentes. E dizem que isso é patologia,
não é. Eu amadureci, criei laços mais íntimos com os animais domésticos – falo do
cão e do gato, porque já fui íntima de galinhas, porcos, patos... –, e hoje, mais
do que antes, compreendo perfeitamente a escolha desse objeto amoroso de quatro
pés, que são os mais adotados. Não, não é patologia amar. Não importa a quem ou
ao quê se ame. O mundo, cada vez mais, é habitado por seres humanos que
desconhecem o amor. Que veem no amor barganha, conveniência, projeções
midiáticas de beleza e poder, ou o toma-lá-dá-cá... E os gatos e os cães incondicionalmente
amam. E inevitavelmente são amados. A pureza do amor emitida pela luz do olhar
de um cão é comovente e sensibiliza e emociona muito. Amar um ser assim mais do
que se ama um amigo ou parente não é patológico.
Estou pensando em, assim que
puder, adotar um filhote de gato, já que de onça, como eu gostaria, não é
possível. Tenho amado e me se sensibilizado mais os animais. E percebendo como
somos prepotentes em achar que somos superiores, que merecemos mais o amor do
que os bichos!
Bom lembrar que a Dra. Nise da
Silveira utilizava a presença de gatos junto a seus pacientes psiquiátricos, esquizofrênicos,
e que muitos reagiam positivamente, interagiam com os gatos, embora não o pudessem ou não o quisessem fazer com os humanos. Não conheço bem a explicação “científica”
para isso. Mas “sinto”, “intuo” que os “loucos” sentem a emanação da energia
amorosa dos bichos, dos gatos. Como sentem também a agressividade de autodefesa.
Eles sentem a essência do bicho, sentem, inconscientemente, ou nem tão
inconsciente assim, que podem confiar. Que podem amar. Que são, incondicionalmente,
amados.
Não, amar mais os animais do que
as pessoas não pode, de um modo geral, ser encarado como patologia. Quem
convive com animais sabe o que é ser amado por bicho. E não há como não
retribuir esse amor amando profundamente. Amor não é patológico. Amor, amor, não!