Umas palavrinhas a respeito do Seminário
de Marcus Quintaes sobre Hillman, criador da Psicologia Arquetípica, do qual
participei e que terminou hoje. Muito terei o que falar após trilhões de reflexões
e associações que farei. Mas quero registrar isso aqui com o olhar desse
momento, que está fresco ainda.
Não foi fácil o primeiro impacto,
resultante das desconstruções (mas como é bom desconstruir... acho que a
desconstrução é também uma construção, construção do vazio, o útero de onde
renasceremos). Mas eu já estava pronta. Quando comecei a estudar Hillman, a ler
os seus livros e entrevistas, sabia que estava ali um homem que me faria
morrer. Morro diariamente, como boa escorpiana, mas há as mortes profundas
pressentidas. Não tenho medo da morte, muito pelo contrário. De algum jeito eu
já sabia que estava morrendo, mas o Seminário deu conclusão a esse maravilhoso
evento, que é a Morte.
Eu procurava Hillman. Há muitos
anos. Não sabia exatamente de onde viria quem ou aquilo que eu buscava. Eu procurava
a Poesia com o status de curadora, cuidadora, terapeuta. A Poesia foi cuidadora
de minha alma por anos a fio. E ainda o é. Às vezes um verso dissolve velhos
tumores da alma. E eu sei, sempre soube disso.
Nas várias terapias que já fiz,
com profissionais competentes, com amor pela vocação, sempre sentia que, apesar
de terem proporcionado muitas transformações positivas na minha vida, faltava
algo importante. Eu não sabia exatamente o quê, mas tinha consciência plena de
que faltava. Descobri com Hillman que o que faltava era alma. “fazer alma” é um
termo de Hillman que sintetiza a minha afinidade com a Psicologia Arquetípica.
No fundo, não é nem possível
falar com profundidade da Psicologia Arquetípica se quem o fizer não tiver alma
de artista, não tiver poesia na alma. Isso é uma interpretação muito particular minha,
uma visão de quem apenas está começando um caso com James Hillman. Porque a Psicologia
Arquetípica é uma terapêutica poética. E talvez no fundo a vida seja mesmo um
grande poema a ser vivido.
“Fique com a imagem”. Essa
expressão de Hillman, por mais que eu lesse, sua compreensão me escapava.
Parecia que alguma instância de mim entendia, mas conscientemente eu não me
dava conta do que ele estava dizendo. O Seminário com Marcus Quintaes elucidou
isso. Mais uma vez, numa leitura pessoal, eu diria que “Ficar com a imagem” é
escolher a poesia, a beleza, escolher adentrar o sonho e tocar na sua tez.
Ficar com a imagem é embriagar o olhar para ver mais e usar o tato para explorar
a pele de seda do sonho, dos desejos, dos medos.
Outro aspecto da Psicologia
Arquetípica que me seduziu profundamente eu posso explicar usando como exemplo
a alopatia e a homeopatia. A alopatia, de uma forma geral, trata todas as
pessoas com o mesmo remédio, sem considerar as diferenças. A homeopatia já olha
o paciente de uma outra forma. Ela considera as diferenças na hora das prescrições.
Pois então, a Psicologia Arquetípica nos singulariza. E eu acredito que toda
inteireza é construída sobre o respeito às diferenças, Ser inteiro é acolher a
diversidade. A psicologia de Hillman não petrifica as figuras mitológicas, não
nos amarra a determinados arquétipos porque está longe de se aproximar do
literal e muito, muito perto da literário.
Eu já tive muita dificuldade de
engolir algumas interpretações de sonhos. Não era resistência, era uma percepção
inadequada e viciada sobre eles, que não me trazia nenhum sentimento que
pudesse atestar que eram legítimas as interpretações profissionais. Repito a
expressão “olhar viciado” para acrescentar mais uma boa percepção da Psicologia
Arquetípica: ela não vicia os olhares do analista, do terapeuta. Ela não nos faz arrastar o peso dos símbolos,
como se estivéssemos acorrentados a eles.
O símbolo é muito pobre em ralação à imagem. A imagem é muito mais do
que a soma de símbolos, ao estilo bem cartesiano.
“Ficar com a imagem” é uma
expressão sobre a qual ainda preciso refletir muito e sobre a qual estarei
falando a qualquer hora por aqui.
É evidente que tudo isso modifica
minha atuação como arteterapeuta. Haverá
mais poesia. As produções artísticas serão olhadas com muito mais amplitude. Os
pacientes terão uma olhar singular sobre suas singularidades. Mas isso de uma
forma efetiva. Parece-me um casamento
promissor e sólido esse entre a Arteterapia e a Psicologia Arquetípica. E por
hora é isso.
Agradeço o comentário sensível e profundo sobre um Seminário que desejei muito participar, mas fui impedida por circunstâncias e responsabilidades outras. Suas palavras confirmaram a minha previsão.
ResponderExcluirAna Liése Leal.
Oi Tania! que bonito o seu encontro com Hilmam. eu também senti algo parecido qdo li o Código de Ser , por aproximar a psicologia da Poesia e tb de ideias espiritualistas que eu sempre acreditei..Lamentei muito não poder ir ao seminário. O que me consola é que meu supervisor tem esse olhar " Ficar com a imagem"..é também uma sugestão que escuto, que pratico..e é muito bom. Aliás, ficar com a imagem e também ampliar para todos, possibilitar isso a quem te lê, é algo que vc faz muito bem e por isso, tanto vc quanto Hilman seguirão muito felizes nesse casamento..estou muito contente em ler nas suas palavras, o seu entusiasmo. Bjos!
ResponderExcluireu lendo te lendo aqui dá até vontade adentrar mais pela área da psicologia para ter mais consciência de mim, muitas vezes escrevo e fico perguntando quem de mim fez isso? onde fui buscar isso? e fico sem respostas...quem sabe eu ainda me aventure pela psicologia! adorei seu texto!beijos
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