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23 de ago. de 2013

Que seja o sonho a nos entorpecer








Arte: Chiara Fersini









Vi uma bela imagem fotográfica que foi batizada, pela autora, como “A origem dos sonhos”. Fiquei, então, pensando sobre tudo que já lera de sério sobre os sonhos. Nas teorias divergentes. Na atração que o tema exerce sobre todas as pessoas. E imaginei comigo que, sendo as pessoas diferentes, devam existir origens diferentes para os sonhos dos sonhadores. Isso pode ser apenas um delírio poético (sou mais poeta ou mais arteterapeuta?), mas faz sentido.



Eu pensara de onde tinha vindo o meu primeiro sonho, sonhado de olhos abertos. E refletia a respeito do significado que ele poderia ter para nossas vidas. Talvez para o resto de nossas vidas. E fiz de mim própria meu objeto de reflexão.



Eu poderia dizer que o meu primeiro sonho acordado, da minha vida de menina, foi uma ação, tinha movimento: eu girava! Sim, seis anos de idade, sempre procurando ficar sozinha, para poder “girar”. Eu rodopiava tanto, que não saía do pronto-socorro. Cicatrizes de tombos fortes que eu tomava girando.



Por que eu girava? Girava porque adorava ver um mundo feito de borrões coloridos girando com velocidade em torno de mim. Girava porque eu viajava ao meu planeta e sentia felicidade. Rodava porque precisava habitar, nem que por instantes, um mundo mais fluido, uma terra que tivesse a mesma tez que a minha: volátil! Se meus pais tivesse me levado a um psiquiatra, este me diagnosticaria como autista, muito provavelmente.



Pensando sobre isso hoje, com um olhar maduro, terapêutico, eu diria que este, que foi o primeiro, continua a ser um grande sonho pra mim, que muito me traz felicidades. E para explicar isso, preciso delirar, sintonizar mais com a poeta do que com a arteterapeuta. Eu preciso dizer que nunca, jamais me adaptei ao meu mundo. Sempre estive nele sem estar nele, e assim tem sido por toda a minha vida. É nele em que a criança gira e a mulher procura entorpecentes suaves para a sua loucura circular.



Se as pessoas – pais e mães principalmente – compreendessem que os jovens buscam nas drogas a transcendência. Mesmo que não saibam, eles buscam um mundo cujo ritmo seja menos acelerado, onde a vibração não seja agressiva. Eu entendo que é preciso compreender que o mundo não está exatamente numa vibração acolhedora. Desapareceram as substâncias que já o fizeram mais leves. E os jovens sofrem. Seus egos desconhecem, mas suas almas sofrem da dor de um mundo sem magia, um mundo dominado pelo dinheiro, pelo capital. E essa é a maior brecha para a entrada da droga em suas vidas.



Eu girava. Eles começam, muito cedo, a fugir do mundo denso através das drogas. Muitos experimentam e esquecem. Outros permanecem. Há no mundo seres com graus de sensibilidade diferentes. Eu já sonhei que encontrava um povo cuja alma era vegetal e que se impregnaram de erupções contagiosas por não agüentarem a densidade do planeta terra. Eu também fui contagiada e, assim, deduzi que era um deles. Um sonho...

Um sonho que me levou a buscar coisas leves, belas, divinas em minha vida. Porque, se não as encontrasse, minha alma vegetal ficaria intoxicada. Uma semana após o sonho, a pele começou a ficar toda pipocada, de fato. Mesmo com a insistência de alguns, não recorri a um médico. Eu precisava apenas encontrar algum ponto, uma pequena dimensão, onde a vibração suave me curasse. E aí entra a arte, a arteterapia e tantas outras histórias.



E lembro primeiro do cuidador, os que, por vocação, curam-se cuidado do outro Minha história de vida sempre passou por isso. Depois vem o olhar sobre o mito, Abaluaê, o africano; Quíron, o grego, e tantos outros mitos que encarnam o arquétipo do curador ferido. Minhas cicatrizes dos giros não nada perto das outras, as internas. Mas meus giros deixando-me algumas cicatrizes me parece, de alguma forma, significativo. Para alcançar uma dimensão mais leve, mais sublime, era preciso abrir a carne. Sempre. Haveria outras formas de sair dessa dimensão densa quando a criança crescesse. E houve!



A música me faz girar. O teatro me faz girar. A poesia provoca giros acelerados. Mas até chegar a essa descoberta, experimentando muitas promessas de paraíso. E volto a falar dos jovens de alma vegetal, talvez, brincando um pouco com o sonho. Refiro-me aos dependentes de drogas. Todas elas, lícitas ou ilícitas. Do corpo e do sentimento. As ervas, as químicas, os traficantes, a dor dos pais, a morte, tantas vezes...



Os jovens que recuperam o seu poder de sonhar acordados, que voltam a sentir o ...enlevo...na vida real, não se tornam dependentes de drogas, ainda que as experimente eventualmente. O remédio é a embriaguez dos sentidos, é o encanto que brota dos chãos mais duros da terra. Os jovens já não sonham verdadeiramente. Já não acreditam no impossível. O que há é o pesadelo do sistema que cria insatisfações eternas, para vender felicidade embalada. A vibração desse mundo de guerras, de atrocidades, de destinos preestabelecidos pelo sistema, pelos pais, pelas escolas, ela desarmoniza a alma dos jovens e adolescentes. E eles, inconscientemente, buscam um paraíso.



Cuidemos de reencantar o mundo. De nos reencantarmos com ele. Voltemos a sonhar. Voltemos, principalmente nós, adultos, maduros, voltemos a ensinar encantos e felicidade aos nossos meninos. A apontar uma estrela, a levá-los a um observatório para ver a nossa pequenez e os mundos que um dia iremos conquistar. Mostremos a eles o arco-íris. Contemos histórias fantásticas, onde o impossível torna-se possível pela magia. Ensinemos a eles onde se guarda a magia: dentro de cada um. Nós nos desencantamos, ficamos prisioneiros do sistema, e contaminamos nossos jovens. Temos o dever de reencantá-los.  É absolutamente urgente que voltem a sonhar, que reaprendam a sonhar.



A proposta da oficina do Sonhar com as Mãos abre-se também para pais que estejam dispostos a começar por si mesmos o aprendizado do devaneio, do sonho, aqueles que sonhamos acordados. Ou que sonhávamos.



A primeira oficina trabalhará a persona, nossa máscara social, conforme as etapas em direção à individuação de Jung. Contudo, a máscara que trabalharemos inicialmente é a palavra. As palavras são máscaras poderosas e funcionam, tantas vezes, como cárceres. Não libertam, aprisionam. Revelam, mas tornam a velar. Sonharemos. Caminharemos pelo território da não-palavra. Viveremos uma ambiência de sonho. E a Arte estará sempre presente, a nos lembrar da maior de todas as artes: a Arte de sermos nós mesmos! Verdadeiramente. Porque só assim seremos felizes.



Na segunda oficina do Sonhar, dando prosseguimento à primeira, trabalharemos “a palavra encantada”. Um momento imperdível, que nasceu do fundo da alma, da alma da arte, da poesia. Mais esse é outro papo.


Mas antes de terminar, preciso voltar a falar das origens dos sonhos. Os seres, por exemplo, de alma vegetal, tem a origem de seus onde? E sua origem? E a do outro? Seriam a mesma? Sonhemos. Sem palavras gastas, rotas, puídas, corrompidas. Sonhemos com as mãos, mas nos aventuremos pelos caminhos dos outros sentidos.  


























Dia 5/10/2013
Horário: das 08 às 12
Investimento: R$ 160,00
Para os que se inscreverem até o dia 5 de setembro: R $120,00



As inscrições poderão ser feitas através do e-mail trcontreiras@gmail.com, com o envio do comprovante de depósito.

Ag: 1236 OP 013 Conta-poupança: 110635-8

Vagas limitadas. Reserve sua vaga por e-mail.



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