Arte: Kalliope Amorphous
As mãos sonham. Este foi o
primeiro insight que a Arteterapia me
trouxe, quando ainda nem compreendia completamente os benefícios da nova
abordagem terapêutica, sendo eu uma peregrina fatigada dos caminhos já um tanto
enfadonhos das palavras. Não que a palavra em si não tenha o seu brilho, não se
rompa em fagulhas que acabem por fazer arder a alma. A palavra é centelha que
pode transformar noite em dia, angústia em êxtase. Pode trazer luz e revelar
sombras ávidas por uma vida real. Mas não qualquer palavra, eis a verdade.
O filósofo Gaston Bachelard, em A
Poética do Devaneio, chama a atenção para as palavras que perderam seu onirismo
interno. E sugere uma pesquisa sobre os nomes que ainda sonham, os nomes “que são
filhos da noite”. Quais seriam as palavras que ainda sonham, o verbo que
delira, como teima em desejar o poeta mato-grossense Manoel de Barros? E o que tem
a palavra a ver com o sonhar, com as mãos embriagadas de escuridão, enxergando
apenas pela luz da intuição, vivenciando o devaneio diurno de que nos fala
Bachelard?
A oficina Sonhar com as Mãos veio
nascendo, pouco a pouco, desde o primeiro impacto provocado pela Arteterapia, e
se desenvolvendo, enquanto projeto, a partir de reflexões de textos junguianos,
pós-junguianos, da filosofia poética de Bachelard e das vivências da vida real,
a escola da vida, que nos traz um saber indiscutivelmente precioso. A primeira
oficina, que acontecerá no dia 5 de outubro, ainda não foca as palavras que
sonham, não tem a finalidade de ir ao encontro das palavras noturnas, do verbo
enlouquecido. Poderíamos dizer que ela é a primeira etapa de um processo que se
desenrolará no seu ritmo próprio e tem como um dos objetivos trabalhar a não-palavra,
a comunicação que se dá sem o verbo, a confiança de que é possível sonhar com
as mãos.
Mais que uma oficina, o Sonhar
com as Mãos é uma aventura. É uma proposta de devaneio diurno. Não conceituaremos
os sonhos. Não os definiremos. Ao contrário
disso, vivenciaremos os sonhos, buscando, tanto quanto possível, nos aproximar
da fronteira que divide esses dois universos: o diurno e o noturno. Entraremos
no Reino da não-palavra. Nós nos colocaremos em estado de alma nascente. A
imaginação é capaz de nos fazer criar o que ainda não foi concebido. E o “sem-nome”
haverá de se impregnar de onirismo, que se recobrirá da palavra virgem, fruto
da imaginação.
Mas sentiremos a dor do animal
ferido, o animal esquecido no fundo do homem. O animal que precisa encontrar o
seu som, a voz da sua dor, a carícia da mão humana sobre seu próprio ser
esquecido, ferido, esperando a hora do grito e da canção. E com as mãos,
criaremos aquilo que ainda não foi dito, que não pôde ser proferido, porque não
cabia na linguagem dos homens.
Sonhar com as Mãos é uma aventura
profunda em busca da imaginação criadora. O primeiro passo para o encontro com
as palavras que sonham. A ambiência de sonho nos proporcionará o encontro com o
território onde será possível conhecer os sonhos...sonhando! Sonhemos juntos!
Onde será a Oficina, Tânia?
ResponderExcluirQual o investimento?
aguardo...
bjs!
Katherine
as palavras que perderam seu onirismo interno
ResponderExcluirque bonito isso
beijo
Oi Tania!
ResponderExcluirQue bonito seu texto. O "sonhar com as mãos" me chamou a atenção, pois tenho estudado o Movimento Surrealista da história da arte ao qual começou como um movimento literário, mas teve muita representatividade nas artes plásticas. Os artistas desse movimento, ancorados no inconsciente, se propunham a sonhar pintando / pintar sonhando... Salvador Dali é um grande exemplo!
Tenho postado no meu blog meu dia a dia nesses estudos!
Se vc tiver interesse dê uma olhada!
Acho que pode te inspirar também!
Um abraço e boa sorte no seu trabalho!