"Capta essa coisa que me escapa"
Sonhar é um poema. Acredito que sim. Nessa perspectiva, todo sonhador é
um poeta. Um poeta que, ao despertar, esquece as suas próprias
metáforas, e quanto maias busca aproximar a luz do seu poema noturno,
mais se distancia da compreensão de sua criação e de si mesmo. A luz do
dia ofusca as imagens noturnas. As palavras, muitas vezes, distanciam os
sonhos de sua essência, desvirtuando-lhe a linguagem. É como as pessoas
que buscam entender a poesia utilizando a lógica da razão,
impossibilitados de captar a dimensão do reino da não-palavra.
As palavras são véus. Sob eles, outros véus. A mesma máscara que nos
desfigura o semblante encarcera linguagens infinitas, nas
palavras-clichês, na linearidade que deforma nossos passos e
distancia-nos do nosso Destino. E vem a
lembrança de Clarice Lispector: “O que eu te falo nunca é o que eu te
falo e sim outra coisa. Capta essa coisa que me escapa e no entanto vivo
dela e estou à tona de brilhante escuridão”. A expressão de Clarice –
“brilhante escuridão” – também nos faz recordar da dimensão onírica,
noturna por natureza, e da substância da qual são feitos os sonhos. Mas,
sim: é preciso captar essa coisa que nos escapa quando tentamos
traduzi-la em palavras.
A primeira oficina “Sonhar com as mãos”
é uma aventura pelo reino da não-palavra. O poeta Manoel de Barros já
falou inúmeras vezes da necessidade de “restituir a virgindade das
palavras”, porque, segundo ele, elas estão morrendo pelo uso dos
clichês. Talvez esteja aí uma das razões de os sonhos parecerem tão
enigmáticos, tão absurdos, sem sentido – os sonhos não são prisioneiros
dos clichês. Não têm um relacionamento íntimo com o mundo desperto e nem
podem ser subjugados pela literalidade. Sonhar é amplo, cósmico, mas
também visceral e selvagem. “Não há de ser com a razão, mas com a
inocência animal que se enfrenta um poema”, escreveu Manoel de Barros.
Para compreender o sonho-poema é necessário que também cuidemos do
animal ferido que há em nós. É preciso aprender a voz das coisas.
Aventurar-se a desconstruir a palavra hirta. Encontrar-se a
singularidade. Com a sensualidade das cores, que também ficaram
aprisionadas pelos clichês. Nossa primeira aventura do
“sonhar com as mãos” é o início de uma estrada que nos levará de volta a
nossa casa, à nossa essência, à nossa singularidade. Sonhemos com as
mãos!
Local, data e horário encontram-se no folder.
Incrições: abertas a partir de dia 1º de setembro
Investimento: R$ 160,00. Para os que se inscreverem até o dia 5 de setembro: 120,00
As inscrições poderão ser feitas através do e-mail trcontreiras@gmail.com, com o envio do comprovante de depósito.
Vagas limitadas. Reserve sua vaga por e-mail.
(Leiam as postagens anteriores, referentes ao trabalho que será desenvolvido)
Muito interessante, Tânia! Ah se eu pudesse participar, tenho certeza que iria gostar muito,
ResponderExcluirpois a fera que existe cá dentro está cada dia mais indócil :)
beijoss