Gente que inspira

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29 de jul. de 2014

Arteterapia: saber para melhor sentir...



Arte:  Diane Shenandoah


“Quero saber para melhor sentir e sentir para melhor saber.”
(Paul Cézanne)


Sempre há alguém perguntando o que é, mesmo, Arteterapia. Sempre, o equívoco de que a expressão artística por si só seja a mola propulsora da Arteterapia. Não, não é. Se assim fosse, bastaria criar. Criar é muito e transforma. Mas a Arte, na Arteterapia, é mediadora. Através dela, podemos nos relacionar com o universo íntimo, singular, de cada paciente. Há quem prefira falar “cliente” – eu não gosto. Mas também não me sinto confortável em utilizar a expressão “paciente”. Mas, em falta de um nome ideal, chamemos de “paciente” aquele que se submete à terapia que tem a Arte mediando, fazendo a ponte entre o mundo consciente e a dimensão inconsciente da psique. Pois então: a Arte é mediadora. É importante conhecermos diversas modalidades artísticas; e, na formação, experimentamos muitas delas. Outra dúvida que sempre surge é quanto à necessidade de o arteterapeuta ser um artista, ter uma formação anterior ligada às artes. Não, não é preciso. Se assim fosse, todo artista, toda pessoa formada em Artes seria um bom arteterapeuta. A Arteterapia une Arte e Psicologia. E essa é uma união que não pode se dar de forma artificial e forçada.
A Arteterapia precisa de uma base teórica. A relação do paciente com sua criação se dá de forma espontânea, através de sua observação, sua percepção, seus sentimentos e insights. O arteterapeuta precisa de uma ou mais linhas de pensamento teórico que o conduza. Por isso existem várias abordagens na Arteterapia: Arteterapia com abordagem junguiana; Arteterapia gestáltica; Arteterapia transpessoal, e por aí vai. Cabe ressaltar, desse modo, que é imprescindível que uma ou mais correntes psicológicas sejam condutoras nessa modalidade terapêutica. Não cabem invencionices, como estamos vendo acontecer a todo instante, chegando ao absurdo de existirem pessoas autodenominando-se “arteterapeutas” e anunciando atendimento a distância, sugerindo que se envie desenhos, pinturas, enfim, algo que em nada condiz com a Arteterapia séria, que não prescinde da observação de todo o processo criativo, e não apenas o resultado final, sem falar em todos os estágios necessários para o conhecimento do paciente e a criação de vínculos.
O arteterapeuta, como todo profissional que atua nas áreas psicoterapêuticas, precisa estudar constantemente e conhecer os novos caminhos apontados pela Psicologia. Se assim não for, estarão estagnados, apenas repetindo fórmulas e desvirtuando a essência de um trabalho que necessita, sempre, de Alma. O conhecimento da História das Arte e de todos os movimentos artísticos ao longo dos tempos é bem-vindo, porém não é essencial. Pouco importa se a criação do paciente tende para esse ou aquele estilo; o que conta, de fato, é a forma como podemos “escutar” o que ele – o paciente – diz através de sua elaboração artística, através de seu processo de criar, através de sua fala, seu olhar, suas emoções. Não raramente, um arteterapeuta é solicitado por algum conhecido ou amigo a “interpretar” o desenho de um filho, uma pintura, uma criação artística. Isso não existe, precisamos informar. Primeiro, porque – acredito eu – não é trabalho de um arteterapeuta “interpretar” nada. Cabe ao profissional acompanhar cada passo no fazer artístico, cada expressão do paciente, dificuldades, observações, associações, e intervir, com base também nos conhecimentos teóricos, mas sobretudo com Alma, intuição, ajudando o paciente a revelar-se a si mesmo, tendo a Arte como mediadora. Embora aprendamos técnicas diversas, não podemos ignorar que cada paciente é um universo, cada momento solicita de nós percepção, flexibilidade, intuição para alcançarmos mais um degrau em direção à dimensão desconhecida daqueles que nos procuram.
Na abertura do meu trabalho arteterapêutico, costumo utilizar a Poesia sempre – uma modalidade artística ainda pouco explorada na Arteterapia –, como uma forma de sensibilização para a entrada numa dimensão metafórica. A partir daí, seguimos com reflexões do paciente, fazendo ponte entre o que leu e sentiu e o seu mundo, seus sentimentos, suas vivências. Num momento posterior, trabalhamos uma modalidade artística que amplie as questões emergentes e caminhamos no sentido de elaborações e revelações através da criação. Os resultados são surpreendentes e, ao longo das sessões, não raro os próprios pacientes encontram pontos de interseção entre trabalhos realizados anteriormente.

O importante é que deixemos claro que Arteterapia não é simplesmente “fazer arte”. Tampouco  é “interpretar” desenhos, esculturas, pinturas etc. A linguagem artística em muito se assemelha aos sonhos. Temos diante de nós algo que fala por si só, trabalhos cujo entendimento passa pelo “sentir”. Sim, é preciso que o Arteterapeuta beba em várias fontes. É preciso “saber”. Mas, saber para “sentir”. Paul Cézanne, considerado o fundador da arte moderna, registrou: “Quero saber para melhor sentir e sentir para melhor saber.” Eu diria: Quero saber para melhor sentir e sentir para melhor saber, e saber para melhor sentir...numa relação incessante entre a mente e o coração que possa, o tempo todo, vivificar a Alma.  

26 de jun. de 2014

Amor não é patologia








Sempre me achei uma pessoa sensível. Cheia de paradoxos, mas sensível. As dores que vinham do mundo para a minha alma, doíam. Doeram sempre. Muito. Ainda doem. Ascendente em peixes, aqueles que no zodíaco morrem com o outro. Isso explica parte da sensibilidade, não toda. Astrologia não é acadêmica, portanto isso tem pouco valor pra você – acadêmico, mestre, doutor. Não constou dos vossos currículos e cheira a misticismo. Já pensei assim também. Mas fui pesquisar. Tive uma postura “científica”, como sempre tenho; mas estou aprendendo a usar e a confiar na minha via intuitiva. Bem, mas fui pesquisar a astrologia depois de ganhar um presente forçado, do qual não pude declinar: uma então amiga astróloga ofereceu-me o meu mapa natal de presente de aniversário. Esquivei-me o quanto pude, mas não pude prolongar muito os meus dribles. Fui fazer o tal mapa. Ok, isso não é “acadêmico”, mas – embora o mapa tenha sido interpretado por uma pessoa com limitações na sua função, porque há “astrólogos” e “astrólogos” – surpreendi-me com o resultado e obtive respostas que nenhuma terapia, nenhuma análise, nenhum médico, nenhum tratado de magia, nenhum pai-se-santo, nenhuma cigana me responderam. Porque gosto de ler sobre tudo, experimentar, verificar de perto. E busquei muitos caminhos, em vão.

Óbvio que fui buscar livros de astrologia pra ler. Tentei chegar o mais próximo que pude da astrologia antiga, ainda pura, ainda ciência. Pouco se encontra a esse respeito que possa ser levado a sério. Mas fui. Fiz analogias. Entendi que todo nascimento, inevitavelmente, ocorre em sintonia com o Cosmos. Que refletimos aspectos do cenário cósmico. Ok, isso não é “acadêmico”, mas eu jamais limitarei meu saber somente à academia. Gosto de ouvir versões antigas. Gosto de querer encontrar o começo das coisas. Gosto muito de acreditar que todos os saberes igualam-se em valor; sejam eles acadêmicos, sejam populares.
Mas não era nada disso que eu ia falar. Ia falar sobre bichos, como gatos e cachorros. Sempre respeitei os cachorros, os gatos. Sempre me despertaram ternura. Mas nunca me envolvi intimamente com nenhum deles. Isso foi acontecendo aos poucos. Cachorros de sobrinho pra cá, gatos de irmã pra lá, cachorros de amigos acolá, até aparecer Bianca, gata de rua alimentada por minha irmã , que chegou, pariu, ficou. Operada, não tem mais cio, virou um grande bebê. E fui convivendo com ela, observando, aprendendo. O gato sempre me atraiu pela sua independência. Mas Bianca ensinou que eles amam, eles fazem carinho e também, como o cachorro, afeiçoam-se aos seus donos-pais de uma forma muito bonita. Encantei-me e encanto-me com ela. Toquei nesse tema para trazer à reflexão o sentimento de amor pelos animais. Tem crescido bastante o número de pessoas que adotam animais e se apaixonam por eles. Tem aumentado em número as vozes que dizem amar mais aos animais do que aos seres humanos. Muitos ainda consideram esse amor uma patologia séria e não admitem, simplesmente, que se ame mais a um ser de um reino dito “inferior”.  Eu sou da linha dos que acreditam que não há reino “superior”; há reinos diferentes, mais complexos, mas desenvolvidos, mas nunca “superior”. Para as pessoas que se acham mais sensíveis, evoluídas porque não comem carne, eu sempre questiono por que comem vegetais. Porque acredito que o reino vegetal também precisa de amor. Enfim, não há reinos inferiores.
Como eu falei antes, cresce o número de pessoas que sofrem mais com a morte de seu cão ou seu gato do que com a morte de uma pessoa amiga. Às vezes até parentes. E dizem que isso é patologia, não é. Eu amadureci, criei laços mais íntimos com os animais domésticos – falo do cão e do gato, porque já fui íntima de galinhas, porcos, patos... –, e hoje, mais do que antes, compreendo perfeitamente a escolha desse objeto amoroso de quatro pés, que são os mais adotados. Não, não é patologia amar. Não importa a quem ou ao quê se ame. O mundo, cada vez mais, é habitado por seres humanos que desconhecem o amor. Que veem no amor  barganha,  conveniência,  projeções midiáticas de beleza e poder, ou o toma-lá-dá-cá... E os gatos e os cães incondicionalmente amam. E inevitavelmente são amados. A pureza do amor emitida pela luz do olhar de um cão é comovente e sensibiliza e emociona muito. Amar um ser assim mais do que se ama um amigo ou parente não é patológico.
Estou pensando em, assim que puder, adotar um filhote de gato, já que de onça, como eu gostaria, não é possível. Tenho amado e me se sensibilizado mais os animais. E percebendo como somos prepotentes em achar que somos superiores, que merecemos mais o amor do que os bichos!
Bom lembrar que a Dra. Nise da Silveira utilizava a presença de gatos junto a seus pacientes psiquiátricos, esquizofrênicos, e que muitos reagiam positivamente, interagiam com os gatos, embora não o pudessem ou não o quisessem fazer com os humanos. Não conheço bem a explicação “científica” para isso. Mas “sinto”, “intuo” que os “loucos” sentem a emanação da energia amorosa dos bichos, dos gatos. Como sentem também a agressividade de autodefesa. Eles sentem a essência do bicho, sentem, inconscientemente, ou nem tão inconsciente assim, que podem confiar. Que podem amar. Que são, incondicionalmente, amados.
Não, amar mais os animais do que as pessoas não pode, de um modo geral, ser encarado como patologia. Quem convive com animais sabe o que é ser amado por bicho. E não há como não retribuir esse amor amando profundamente. Amor não é patológico. Amor, amor, não!




8 de jun. de 2014

Palavras sem Alma


Imagem web (autoria desconhecida)


Sim, dei para duvidar das minhas convicções. De repente, tudo que não ofereça espaço para a dúvida parece-me suspeito. Quanto mais sólida a certeza, maior o abismo que me esperará adiante – dei pra pensar. Esse é um estado ao qual não sei denominar, mas o sinto como fonte fundamental de vitalidade em momentos cíclicos de minha vida. Por mais que insistamos em afirmar que não perdemos a destreza, não enferrujamos com os movimentos mecânicos, o pensamento linear, a rigidez da lógica cartesiana, nossa linguagem desmascara-nos para nós mesmos, se tivermos a disponibilidade de observá-la. Tem faltado Alma à linguagem acadêmica, científica. Isso me cansa, confesso. Desvitaliza-me se, ciclicamente, eu não me deixar arrastar pela torrente das dúvidas, vagar pelas vielas movediças, erguer um altar temporário para o deus das incertezas. Até que alguma salvação miraculosa traga-me de volta ao “porto seguro” das Verdades Comprovadas – a ilusão oficial que exige a sua quota de atenção.
Passo fases mergulhada nas leituras, anotando referências, confrontando teorias, refletindo, “enrijecendo” os músculos da Imaginação. Depois caio em Devaneios. Açoito as margens das águas enfurecidas. Encho-me de amplitudes e me perco. Ouvindo a voz do meu eco a bradar: “Tem alguém aí?...Alguém me escuta?”. Não, não me escutam. Habito, provisoriamente, o Grande Deserto. Avanço para o clarão sedutor do Nada. Até me chocar com a tábua de salvação que me protege de um território desconhecido, de onde poucos voltam. 
Há, contudo, nesses ciclos aparentes, um movimento em espiral. Nunca volto ao mesmo ponto de onde havia partido. Algo vai acontecendo, e mais uma vez não sei denominar. Tenho brigado cada vez mais com as palavras. Elas chegam simulando ondulação e fendas. Propagando traiçoeiramente uma nova ordem. Como vinho barato, trazem uma embriaguez presunçosa de amanheceres nublados. Fazem as batidas do coração tornarem-se fracas. As palavras sem Alma corrompem a nossa língua secreta. Persuadem-nos pela asfixia.
Salva-nos a Arte, quando nos deixamos tocar por ela. Salva-nos a Poesia em suas diversas roupagens: as letras ébrias a dançar uma dança que inclui atavismos e silêncios. Salva-nos as tintas engendrando mundos inimagináveis. O barro, modelando seres pelas nossas mãos tantas vezes rijas. O Delírio, que é concebido no ventre da Dúvida, e respira por brechas. Salva-nos a Insensatez e a Transgressão. A insanidade do verbo, como teria dito o poeta Manoel de Barros.
Desconfio de que, intimamente, estou em franco processo de desaprendizagem. Se isso for uma ilusão, é uma ilusão que me acalma. Não é fácil desaprender. Por mais evidências de rejuvenescimento que o morrer constante proporcione aos que cobiçam a juventude eterna, muito poucos se dispõem a velar seus defuntos íntimos. Só os deuses sabem quantas vezes já velei a mim própria: ora contrita, em silêncio nebuloso; ora, embriagada pelo perfume da Morte. Contudo, o Despertar recorrente não levanta o véu que esconde a matriz do Mistério.  Às vezes pressinto que a Eternidade, o Infinito, é só o cansaço de braços que desafiaram a correnteza. 
Outro sintoma da desaprendizagem parece ser o Esquecimento. Não um esquecimento qualquer, mas aquele que nos coloca em vertigem constante. Uma específica perda de memória obriga-nos, em alguns momentos, a lançar mão de alguma espécie de conhecimento que não se apaga nunca. Sim, não há denominação, terminologias, não nos adianta buscar o socorro nas palavras: elas não vêm. E, no entanto, não somos simples desmemoriados. Não lembramos, mas sabemos. Simplesmente.
Afinal, não sei bem do que queria falar. Talvez da ausência de Alma nas palavras. Não basta que elas traduzam o rigor de um mundo medido, contado, referenciado, comparado, evocando, com ardil, uma isenção sedativa, uma paisagem sem os abismos atávicos que nos impulsionam a ir, verdadeiramente, além do previsível. Os Verbos necessitam de Alma. Pensando bem, acredito mesmo que uma outra lógica nos mantém VIVOS – a lógica do imprevisível! 

7 de jun. de 2014

O garimpeiro tem que entender o cascalho





Hoje, segundo dia de encontro com as mulheres do Grupo Arteterapêutico “A Primeira Cor”, me lembrei do velho garimpeiro pai de Ju, lá da Chapada Diamantina.  Na nossa primeira conversa, em frente a minha cabaninha no mato, onde eu passava uns dias, ele narrou suas aventuras de garimpeiro, nos tempos em que não era proibido remover os cascalhos em busca do diamante que mudaria vidas. Não questionei em nenhum momento o que era verdade, o que era crendice, o que era aumento – pela imaginação –  da realidade vivenciada pelo ex-garimpeiro.  Ouvi com atenção cada palavra, e vi nos olhos do homem um brilho de diamante que quase faiscava.
 – O diamante tem vontade, moça; ele não se mostra pra qualquer um não – afiançava-me o pai de Ju.  Segundo contou, o diamante é que escolhia o garimpeiro, com base em critérios de uma alma mineral que eu tentava compreender.  Seus relatos pareciam transportá-lo para o passado, seu olhar se perdia, enquanto a voz prosseguia nos ensinamentos de uma ciência nativa que muito me interessava. Os gestos vinham-lhe em momentos fugidios, que lhe traziam de volta a um presente sem o esplendor da pedra cobiçada.
Inicialmente, não soube por que associei o processo terapêutico às narrativas do homem que há anos não vejo. Só aos poucos fui me dando conta, à medida que recordava as suas palavras. “Moça, quando o diamante tá por perto, a gente sabe, viu? Ele pode até não se mostrar, se ele não quiser, mas a gente sabe que ele está olhando a gente logo ali, em algum lugar. Às vezes tá na cara, mas ele cega a gente, porque vai escolher outro garimpeiro”. Eu ouvia encantada sobre a ciência daquele homem, que, àquela altura, me parecia um sábio, ainda que nem soubesse escrever o próprio nome.  O diamante já não era tão-somente uma pedra, agora: era uma entidade! E prossegui ouvindo.
O homem caminhou em direção a algum lugar do riozinho que passa atrás do terreno, agachou-se, sequioso, e fechou na mão um punhado de pedras que nem de longe lembravam o diamante. Veio em minha direção, esticou a mão e, enfim, explicou: “Tá vendo essas pedrinhas, moça? Olha bem: tá vendo? Sabe que pedras são essas?”. Olhei as pedras buscando alguma espécie de brilho encoberto, soterrado, mas nada vi. “Não, não sei...”, respondi, já me sentindo uma ignorante completa em relação ao mundo das pedras. Ah, o que diria o homem? Aquilo seriam diamantes disfarçados? As pedras saberiam disfarçar-se também? Não, isso já era demais. Mas o ex-garimpeiro não me deixou apreensiva por muito tempo. Acariciava as pedras ao mesmo tempo em que explicava: “Quando a gente encontra essas pedrinhas, é sinal de que o diamante está por perto, moça. Olha bem como elas são. A senhora não dá nada por elas, né? Pois então: quando elas aparecem, pode ter certeza de que tem diamante bem perto. No seu terreno tem diamante, viu? No dia em que ele quiser se mostrar...se ele quiser se mostrar pra senhora, ah...a senhora vai tomar um susto! Porque ele brilha, viu, moça? A senhora conhece diamante?”.  Santo deus, aquele homem não tinha ideia da loucura que estava fazendo comigo naquela hora. Não sabia que todos os cacos de vidro e pingos d’água sob o efeito da luz solar estavam fadados a serem diamantes, sob o meu olhar embriagado por natureza.
Fiquei muito interessada naquela ciência nativa de garimpeiro nostálgico. Por algumas semanas, tudo o que reluzia... era diamante. Não estava interessada no valor da pedra, nos ganhos materiais que ela poderia proporcionar-me.  Tudo o que a minha fantasia criava resumia-se em “ser escolhida pela pedra”. Aí estava a magia, o encanto. Mas nunca encontrei nada além de diamantes imaginários, projetados em qualquer brilho momentâneo do sol sobre a areia molhada da margem do rio. Até o dia em que me lembrei de uma frase do velho e nostálgico garimpeiro: “O garimpeiro tem que entender o cascalho, moça!”. Não, eu ainda não entendia.  E recordei de mais um ensinamento daquele mestre ocasional: “Moça, diamante cobiçado ‘queima’, pode ter certeza”. “Queimar” significa, no jargão garimpeiro, “voltar para o leito do rio”. Não, não: eu não queria cobiçar diamantes.  Esqueci-me do homem, das pedras sinalizadoras, dos diamantes. Até hoje, quando ele me veio à mente de repente.

E então recordei-me do velho garimpeiro. Ouvindo cada mulher do grupo terapêutico, identificando auto-enganos, sentindo cada mensagem contida na arte expressa, escutei o sussurro das suas próprias almas e da minha também, lembrei-me das pedras que nos levam ao brilho límpido do diamante. Dessa vez era diferente.  Não haveria perigo de queimaduras. Os diamantes não voltariam ao leito do rio. Eu não tinha pressa. Experimentava o prazer de tocar cada pedrinha aparentemente insignificante. Sentia sua textura. Seu brilho latente. Enternecia-me a aspereza das pedras, o brilho fugaz e artificial com que se mostravam, sabendo-se, de algum modo, diamantes. Mas eu sabia. Agora eu realmente já sabia. Os diamantes não “queimariam”, porque eu não os cobiçava. Esperaria. Os diamantes nos escolhem. Mas nós, de alguma maneira, já os enxergamos pelas pedras do caminho.  E, como bons garimpeiros, guardamos cada uma que recolhemos. Também são preciosas  para quem nasceu com o garimpo como destino. 

25 de mai. de 2014

A Morte em miniatura







O Jogo de Areia é um método junguiano não verbal, um procedimento psicológico de acesso ao inconsciente muito eficaz e lúdico por essência, visto que são utilizadas miniaturas de diversas categorias, com quais são montadas, pelo paciente, cenas reveladoras. Mas o tema central aqui não é o Jogo de Areia em si.  Este é um relato que aborda um tema de um modo geral evitado pelas pessoas: a Morte!
Não é novidade nenhuma que a Morte foi praticamente banida de nossas vidas, apesar do inevitável encontro com ela a qualquer momento. A maioria dos doentes morre no ambiente frio de um hospital. O velório – realizado comumente, no passado, na sala de estar das casas – hoje é realizado nas salas dos cemitérios reservadas para isso. E, assim, vamos colocando a Morte cada vez mais longe de nós. A arte tumular, com toda a sua riqueza simbólica, também foi desaparecendo entre nós. E se perdeu, assim, a poesia da Morte.
Ao começar a minha coleção de miniaturas para o Jogo de Areia, tinha em mente encontrar logo a pequena urna funerária, peça imprescindível, no meu entender, justamente pela pluralidade de situações que ela pode representar. Porque morrer não é só um evento biológico; morremos muitas vezes no decorrer de uma só vida; a cada transformação profunda; a cada passagem de fase; a cada perda. As pequenas mortes nos preparam para a Passagem final. Ou pelo menos deveriam.
Demorei um pouco para adquirir a peça tão essencial da minha coleção. Não encontrava em lugar nenhum e, a cada pergunta sobre ela, nos vários lugares por onde passei, via caras de espanto, feições contraídas, estranhezas. E eu só estava procurando por uma miniatura, como tantas outras, assim eu pensava.
Acredito muito na Vida que nasce da Morte. Ela parece mais plena. E insisti na busca do pequeno ataúde. Queria que fosse uma peça feita com arte e delicadeza. Busquei através da internet, em vão. Por pura coincidência, encontrei no facebook a página de um artista genial que trabalha com perfeitas miniaturas de móveis. Anotei o e-mail e enviei-lhe uma mensagem. Sabia que miniaturas artísticas com aquela qualidade não seriam baratas, como outras miniaturas que compramos em vários lugares. Por outro lado, também o artista nunca havia feito a miniatura de um caixão. Mas ele topou o desafio e uma pessoa muito querida quis me dar o presente.
Wilson Rodrigues, o artista paulista, contou-me que a peça fez o maior sucesso entre amigos e parentes. Falou também que, ao chegar aos correios para pesar a miniatura que enviaria via sedex, as moças que lá estavam não queriam tocar na miniatura. Mas felizmente ela chegou, junto com um brinde do artista, a adorável miniatura de uma cadeira.
Não, a grande maioria das pessoas não vê beleza na pequena peça artística, feita com esmero, com perfeição. Na mais recente aula do Jogo de Areia, com a competentíssima professora Aicil Franco, levei a peça para mostrar às colegas. Houve quem não quisesse tocar. Mas o reconhecimento da perfeição da miniatura foi unânime. Isso ninguém pode negar.
Há uma espécie de rito para “batizar” as miniaturas adquiridas, que se dá montando uma cena com ela. Eu ainda não havia feito, e tratei de dar vida ao meu caixãozinho tão especial. A imagem está aí. Instintivamente, coloquei na cena uma miniatura de uma mulher grávida. Porque toda morte – biológica ou não – traz a vida.
Esse é mais um recurso utilizado também na Arteterapia, e os resultados são surpreendentes.
Sugiro também a visita à página do artista miniaturista Wilson Rodrigues, no facebook. É De Jó miniaturas.


4 de mai. de 2014

Mulher: flor de cacto (Grupo Arteterapêutico Feminino)






Uma arquiteta que, ao se aposentar, quer ser florista, quer trabalhar com flores. Esse é um sonho do qual não desiste e já planeja os dias que virão. Sim, ela gosta da profissão, é competente, mas buscará as flores quando não precisar mais ser arquiteta. É ela mesma quem fala da beleza da flor do cacto, tão delicada, contrastando com os espinhos que recobrem a planta. Não, ela não relacionou o cacto à vida nova de florista daqui a alguns anos. Tampouco relacionou os espinhos à vida presente, que certamente exige dela muitas posturas defensivas. Ela apenas falou da delicadeza de uma flor que se protege atrás de espinhos. E ela quer, tão-somente, ser florista.

Sua pintura, segundo relata, mostra uma base sólida (de arquiteta e virginiana, ela diz) e, acima, o que ela descreve como uma flor. As pétalas da flor têm forma de coração. Cada pétala, uma cor diferente. Sua fala sugere que, apesar do sonho de ser florista, não esquece da base da arquiteta. Comento sobre a ausência de talos, de elos, entre a flor e o chão.  A flor flutua paralelamente à retidão inerte da “base”, pintada com marrom firme, cor do solo. A flor não se une à base sólida no rodapé do papel. Não há entre elas (a flor e a base) a mais tênue ligação visível. Apenas estão lá: uma no baixo, a outra no alto. Uma fixa, outra flutuante.
Coincidentemente, todas as mulheres (desconhecidas entre si, a maioria) queixam-se de que se sentem mais homens do que mulheres. São mulheres com formação superior, bonitas, casadas, separadas, solteiras. Mas todas, todas elas se sentem mais homem do que mulher. E reclamam do peso que é ser homem sendo mulher.
A proposta inicial era responder livremente a um poema de Orides Fontela:

Adivinha
O que é impalpável
mas
pesa
O que é sem rosto
mas
fere
O que é invisível
mas
dói
(Orides Fontela)

As respostas racionais foram inúmeras. E, ainda que camufladas pela consciência, já revelavam uma versão que seria unânime: o peso que as mulheres carregam ao se sentirem mais homens do que mulheres. Essa foi a nossa grande “coincidência” no grupo de mulheres que se conheceram ontem. Todas elas carregam o “peso” de ser o homem que dizem ser.
Essa é apenas a orelha de um livro que escreveremos juntos. Mas as histórias, ainda não de fato contadas, deixam escapar um furtivo brilho. Talvez a luz transparente de lágrimas que ainda correrão. Ou a luz que se acumula sob a crosta de que são formados nossos rostos provisórios, que se desnudarão aos poucos, com o tempo, com a Magia que se faz presente em momentos prenhes. Venha de onde vier, um raio de luz sempre orna a escuridão. Apurar os sentidos e percebê-lo faz parte da abertura de um rito que evoca a Alma.

Abismos, buraco negro, portal, gota de sangue, vulva: mulheres escolhem imagens interessantes para traduzir seu universo singular. Mulheres pintam buracos negros de amarelo e juram que ali há luz, no fim. No fundo, debatem-se entre a esperança que colhem no Manual da Felicidade e a escuridão que evitam atravessar, temerosas de sua própria natureza feminina, feita de penumbras e visões. Mulheres temem ser mulheres. Renderam-se à fantasia de que só a luz solar pode revelar. Não sabem, ainda, que as sombras que envolvem a Lua são vidas que desabrocharão revestidas pelo tule do Mistério. E assim serão. Porque essa é a essência do feminino.

Uma mulher, apenas uma – a mais nova de todas –, resiste em dar nome ao que “pesa, fere e dói”, invisível e impalpável. “É algo aqui...”, diz ela, espalmando a mão no coração. “Mas eu não sei o que é!", explica. “Uma dor”, tenta ela dizer; mas acaba dizendo que não, que não era uma dor real.  E fico pensando como deve ser difícil para muitas mulheres traduzirem suas sensações, seus sentimentos, seus anseios mergulhados nos destroços de suas subjetividades destruídas. Sim, há dores que não doem. Mas são dores doídas. Reais. Nenhum aparelho detectará nada, nenhum medicamento atuará sobre essa espécie de dor que não dói, mas que é doída. Muitas mulheres sentem no coração o peso de um evento futuro. Captam, como radares, sinais distantes. Lagrimejam uma tristeza que não é só sua. Estacam, de forma precisamente técnica, o sangue de uma ferida que se alojou no fundo de um abismo que elas temem descer, simulacro de seu próprio ventre.

A maioria das mulheres veio atendendo ao chamado de “trabalhar o feminino”, um chamado clichê que em nada traduz a essência verdadeira da nossa proposta. Porque “trabalhar o feminino” não é fazer rituais evocando as deusas, e muito menos propiciar transes onde, longe de se conhecerem, as mulheres refugiam-se numa imagem muito além do seu universo, da sua realidade. Prefiro dizer que refletiremos sobre a subjetividade feminina e buscaremos uma voz genuína para nossas sensações, emoções, percepções.

Apesar das explicações sobre a dinâmica de nossos trabalhos, do foco na expressão, na imaginação, houve quem quisesse descobrir a “resposta certa” para o questionamento do poema de Orides Fontela.  “Não existe uma resposta certa. Existem muitas, talvez infinitas respostas certas”, alertei. “Toda e qualquer resposta é certa, é a sua resposta”, reforcei. A busca da “resposta certa” cria insegurança, inibições, medos. Além do mais, essa fixação na exatidão impede que a imaginação flua, que a nossa expressão, a mais genuína possível – a depender do estágio em que nos encontremos no espaço terapêutico –, possa ser exteriorizada. Trabalhar com Poesia é algo que permite atenuar o medo do erro, o medo do risco, evitando a cilada de uma direção única para um universo entrecortado por caminhos múltiplos.

O início de um encontro terapêutico é um momento de escuta profunda das primeiras expressões. O paciente é como uma casa que já foi reformada, talvez, inúmeras vezes. As paredes receberam várias camadas de tinta, à medida que a cor da superfície se desgastou, desbotou. A primeira cor jaz sobre sucessivas camadas de tintas, à espera de que possa, enfim, mostrar-se tal como é, numa relação íntima com o cimento e os blocos. O caminho é longo, às vezes, mas a compreensão de que sob tantas vestes sobrepostas estamos nós, nus, é um estímulo grande a continuar a caminhada.

Não, eu ainda nada sei desses universos desconhecidos que existem dentro de cada uma das mulheres que foram em busca de sua primeira cor.  Mas compreendi que todas elas, no fundo, buscam libertar-se do peso de “serem homens”. Querem ser mulheres. Não sabem, contudo, o que é ser mulher sem correr o risco de atravessar portais que sejam apenas imaginários, de mergulharem no abismo sem levarem uma potente lanterna, de se sentirem julgadas incapazes, de não corresponderem ao modelo de “mulher independente”. Como homens que se julgam ser, receiam afundar-se no pântano da paixão e serem, novamente, submetidas à submissão, à mudez de gerações passadas de mulheres.

Todas as vozes me alcançaram e delas falarei oportunamente. Neste momento, quero apenas lembrar que sob os espinhos do cacto esconde-se uma flor delicada e de rara beleza.


11 de fev. de 2014

A primeira vez é sempre!


Imagem: web

No princípio, existe a força da Vida. Li esta frase há muitos anos num livro simples e profundo escrito por uma médica. Levei anos para crer nesta força.  Assegurei-me dela no decorrer da minha própria jornada, durante a qual, em muitos momentos, apostei na veemência da Morte. Mas a vida arrebentava pedras e vinha em cachos de flores; surgia na água suja de uma poça; vencia a ignorância de mulheres que atiravam ao lixo o seu rebento. A Vida triunfava inúmeras vezes, inexplicavelmente.

Um dia disseram-me que o anseio obsessivo pela Morte nada mais era do que o desejo de viver plenamente. E compreendi que a Plenitude era o inimigo número um do sistema em que vivemos.  Pela insaciabilidade eterna, aprisionam-nos. Morríamos e morreríamos todos os dias pela mesma razão. O consumismo é o verme solitário que nos aumenta a fome e perpetua o vazio. E a morte – despojada de sua aura de mistério – vem em suas versões nocivas, transformando-nos em zumbis.

Mas voltemos à força da Vida. A vida é cheia de incógnitas e mistérios. Todos nós os vivenciamos, mas já não nos damos conta disso. Muitos acreditam, inclusive, que caminhar para fora do Mistério é a saída para recuperar a força para a Vida. A inversão de valores é uma marca profunda dos novos tempos. É pelo Mistério que nos reerguemos do chão, que ganhamos asas e criamos amplitudes. Penetrar no Desconhecido é uma porta evitada pelos homens. Mas está justamente aí a Saída.

Ao idealizar esse trabalho com mulheres que vivenciam – pelo menos teoricamente – a maturidade, levei em conta os valores que regem a nossa época. Considerei a completa dessacralização do Feminino. A angústia – na maioria das vezes inconsciente – experimentada por mulheres em faixa etária que varia dos 35 aos 50, 60 anos, com o declínio paulatino da juventude, numa sociedade onde o envelhecimento é concebido como doença.

O fio condutor de nossos encontros será a busca de experimentar a vida diretamente, sem passá-la pelo filtro das crenças, ideias preconcebidas, expectativas. Recapturar um senso perdido de encanto diante das experiências do cotidiano. Compreender as doenças e sofrimentos como estados em potencial de transformações para o amadurecimento e o crescimento. Recuperar a nossa “cor original”, o nosso brilho, o nosso corpo de luz. E a escolha do nome para o nossos trabalhos, nossos encontros – A Primeira Cor –, veio de um poema de Orides Fontela (1940-1998), que sintetiza bem a essência dos nossos objetivos:

A primeira cor

Abrir os olhos.
Abri-los
como da primeira vez
– e a primeira vez
é sempre.

Embora seja um trabalho gratuito (realizado mensalmente), tenho esperança de que o grupo de 15 mulheres tenha a marca da diversidade etária, cultural, social e todas as diferenças que enriquecem uma Caminhada. E que em todos os dias de nosso encontro possamos estar vendo a vida – a nossa vida – e o mundo pela primeira vez.





14 de jan. de 2014

Traduzir-se é uma arte


Foto: web


Estou em processo de gestação de meu primeiro livro, fecundada que fui pela Poesia como terapêutica.  Os escritos versarão sobre a Poesia na Arteterapia e, mais amplamente, sobre a necessidade do reencantamento do olhar para a vida. Isso significa trazer poesia para os dias, as horas, os meses, os anos...  Mas esta é outra história, embora o tema continue a ser Poesia. Falo agora sobre a vivência que acontecerá brevemente, “Traduzir-se: a arte de contar a própria história – Uma vivência Arteterapêutica”, onde estarei como facilitadora, juntamente com uma amiga e colega arteterapeuta, Cláudia Antunes.
 Esse projeto é antigo, e nasceu casado com o exercício da escrita, uma dificuldade vivenciada por muitos, como pude constatar ao longo de minha caminhada, em trabalhos com textos. Mas é impossível cogitar-se escrever ignorando uma ancestral tão majestosa de nossa linguagem atual, a Poesia. Dentre tantas fantásticas descobertas, encontrei referências sobre a Poesia como linguagem de povos primitivos, e essa observação levou-me a pensar no quanto podemos ter ficado “cindidos” com o apartamento dessa dimensão encantatória de nossas vidas. Adoecemos pela carência profunda da Poesia. Adoecemos do olhar, que já não sabe embriagar-se da beleza natural, da singeleza. Adoecemos da Alma, que já não se espanta.  As palavras do poeta Márcio-André são reveladoras:  “A poesia é a linguagem primordial de todo espanto e está na essência de tudo que produzimos, enquanto ato criador não alienado. A poesia é o que permite o real, ainda que hoje o real a oculte, entulhado na rotina dos sistemas “.

Nossa vivência pretende ser um espaço onde sensibilizaremos nosso olhar, onde o embriagaremos de Poesia, a partir da nossa própria história. É o filósofo Gaston Bachelard quem pergunta, em seu livro A água e os sonhos: “Do homem amamos acima de tudo o que dele se pode escrever. O que não pode ser escrito merece ser vivido?”.  Eu responderia que toda história merece ser escrita. E que é possível reencontrar o encanto nas palavras, nos gestos, nas expectativas; embriagar o olhar e se extasiar de beleza, ainda que em momentos onde falte o enlevo. Um dos caminhos que trilharemos é o de buscar descalcificar expressões construídas com palavras cristalizadas, sem movimento, sem vida. Há indícios de que um dia nossa linguagem ostentou um halo.  E temos a esperança de fazê-la brilhar novamente.

O exercício de “sensibilização poética” não se restringe à execução de trabalhos em uma ou duas modalidades artísticas. A Poesia está na dança, no canto, na pintura, na escultura, na fotografia...no poema! Mas é certo que nosso trabalho culminará com a confecção do livro de nossa vida, relatando nossa própria história. Nossa história recontada pelas mãos da Imaginação, que entre nós ganha o status de realidade. As técnicas utilizadas para nosso livro serão variadas, considerando as afinidades de cada um com as modalidades artísticas. 

A proposta de auxiliar os participantes a entrar num “estado poético” seria muito ousada, se não acreditássemos que Poesia é, de fato,” a linguagem primordial de todo espanto e está na essência de tudo que produzimos” , como tão bem colocou o poeta Márcio-André, já citado acima. Sob os escombros do que insistimos em chamar de “realidade”, há Poesia. Vamos escavar a terra com as nossas mãos e, também com as nossas mãos, vamos reescrever as possíveis páginas sombrias de nossas vidas.
A Vivência acontecerá em breve e será divulgada amplamente, com datas, local e demais informações.

Traduzir-se é uma arte. Vamos a ela?